Surfe deluxe

Opinião: temos um candidato

30.4.08

Bruno Santos perdeu o status de aposta, de promessa. O vice-campeonato na triagem de Teahupoo é, no barato, o quinto resultado de respeito do garoto. De cara, lembro de dois shows em triagens de Pipeline, um consistente quinto lugar como convidado nos tubos do WCT chileno e uma aula de tubos nas mesmas triagens de Teahupoo ano passado, em mar monstruoso.

Credenciais suficientes para o brasileiro dizer: nós temos um candidato ao título na onda mais assustadora do tour. Durante as triagens, tirou dois 10 e, na final, perdeu por pouco para Jamie O'Brien, depois de uma nota máxima do havaiano nos minutos finais.

Jamie talvez seja o único além de Slater e os irmãos Irons com domínio absoluto da moderna técnica de entubar de backside em ondas para a esquerda. Não faz mais que a obrigação: o quintal de sua casa é Pipeline. O de Bruninho é Itacoatiara. E, ainda assim, nosso homem-tubo assusta, impõe respeito. Seu mérito é ainda maior porque, nas esquerdas tubulares, ele é um goofy que ousa ameaçar o império aparentemente indestrutível dos regular.

Bruno parece ser o único candidato real do país qualificado para o pleito de Teahupoo. Voto nele.

Uma eleição, Bruninho já venceu. Na escolha do surfista ideal, feita por 20 jurados convidados pelo Surfe Deluxe, o garoto foi escolhido com sobras na categoria "melhor em tubos". Clique aqui para ver os resultados.

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Entrevista: Bede Durbidge

28.4.08


Bede em Bells, atrás apenas do mito. Foto: ASP Robertson © Covered Images

Bede Durbidge, 25, tem um jeito tão simples, tão tranqüilo, que poderia ser barrado na área de competidores numa dessas etapas do WCT cheia de seguranças e pulseirinhas. Chegou à elite em 2005 pela porta dos fundos, depois de um magro décimo quarto lugar no QS do ano anterior. Já começavam a desconfiar do talento do australiano de Queenland quando ele eliminou Kelly Slater logo no evento número dois da temporada. Mas o ano sem outros resultados expressivos o tirou da elite. Protegido pelo acaso, acabou voltando na vaga de Richie Lovett, que ficou doente.

Desde então, resolveu mostrar como se faz para apagar as estrelas do tour sem ficar chamuscado. Em 2006, venceu sua primeira etapa do WCT, em Trestles, e foi chamado pela Surfer de "assassino gentil" por causa de seu estilo low profile. Terminou o ano em décimo quinto na elite, com gosto de quero mais. Em 2007, com a vitória do Pipe Masters (que lhe rendeu ainda o título da Tríplice Coroa) escalou definitivamente o ranking, chegando em quinto na temporada.

Mesmo com o posto de top 5 em 2007, pouca gente ainda apostava no cara como estrela do tour antes de soar a primeira sirene na Austrália. Ele prefere assim: passadas as duas etapas na Austrália, Bede calou a boca dos críticos sem dizer só uma palavra: uma semifinal em Snapper e uma final em Bells. Na frente dele, só Kelly Slater. O americano diz o seguinte sobre Bede: "Ele parece ser um surfista experiente do tour, não mostra suas emoções quando está surfando. Você não o vê muito frustrado ou muito excitado. Ele é muito calmo, faz o seu trabalho."

Bede mede 1,85m, o que faz dele um dos líderes da nova geração de surfistas altos do tour. O tamanho não o impede de soltar aéreos e executar manobras modernas mesmo em ondas pequenas. É um surfista cheio de atributos mas, pelo menos até agora, a mídia insiste em não apostar muitas fichas nele. Como Surfe Deluxe acha que os leitores querem saber o que pensa o vice-líder da elite, seja ele um Bede, um Andy ou um Mick, seja patrocinado pela Mada ou pela Billabong, correu atrás de uma entrevista exclusiva com o australiano.

Entre outras coisas, ele diz que a desconfiança da mídia é boa por tirar a pressão por resultados, lembra das dívidas acumuladas ano passado antes de conseguir um patrocínio e elege Mineirinho como o melhor surfista brasileiro.

SD - Neste momento, você é o cara atrás de Slater, lutando pela liderança. A vice-liderança logo no início da temporada, com tantas estrelas na disputa, te surpreendeu?
Bede - É muito bom estar apenas uma posição atrás do líder. Eu treinei forte antes da temporada e senti que o meu surfe evoluiu bastante, se comparado com o ano passado. Por isso, sabia que tinha boas chances de me dar bem.

SD - A Surfer já chamou você de "gentil assassino", em referência ao seu estilo low profile. Você ainda se sente como aquele cara que eventualmente pode destruir as estrelas? Ou já se considera parte do grupo seleto dos candidatos a títulos no WCT?
Bede - Não me sinto mais um eventual vencedor porque estou no meu quarto ano de circuito. Sinto que ganho força e velocidade (em inglês, "momentum") a cada ano. A mídia ainda me vê como um perdedor, mas não ligo. Isso significa apenas menos pressão em mim.

SD - Em seu melhor ano de WQS, você terminou em décimo quarto lugar. Agora, é o vice-líder do WCT. Você não acha que o WQS deixou de ser um bom parâmetro para julgar a qualidade real de um surfista da elite?
Bede - Há muita diferença entre o WQS e o WCT, a começar pela bateria de quatro contra a bateria homem a homem. E, claro, as ondas no CT são muito melhores. Portanto, você não pode avaliar os futuros resultados de um surfista na elite apenas pelo seu desempenho no WQS.

SD - O que mudou desde 2006, quando você começou a vencer no WCT?
Bede - A vitória definitivamente me deu muito mais confiança, por saber que eu posso, sim, bater aqueles que são considerados melhores do mundo.

SD - As pessoas sempre dizem que você é uma pessoa calma. Você acredita ser esse o segredo do seu sucesso? Você pratica alguma atividade para se manter sereno na competição?
Bede - Não... Sou assim mesmo. Faço tudo de uma maneira relaxada, não deixo as coisas me incomodarem muito e me mantenho focado no trabalho que tenho adiante. Definitivamente esse é um dos meus diferenciais, que fazem me manter concentrado na bateria.

SD - Você gastou o seu dinheiro na primeira parte da temporada de 2007 nas viagens por falta de patrocinador. O que você fez para sobreviver no tour. Contraiu dívidas?
Bede - Foi realmente muito difícil fazer o tour ano passado sem patrocinador. Peguei emprestado US$ 50 mil além de hipotecar a minha casa para poder correr o WCT. Eu consegui passar por isso e agora consegui alguns excelentes novos patrocinadores. Assinei com a Mada (surfwear) em setembro do ano passado, o que aliviou financeiramente.

SD - Qual o seu surfista brasileiro favorito?
Bede - Adriano. Ele surfa bem e, além disso, tem mostrado uma evolução rápida de um ano para o outro.

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Itapuca com açúcar

27.4.08








As ondas que quase viraram o catamarã na Baía de Guanabara, quinta-feira passada, foram parar em Itapuca, Niterói. O inspirado fotógrafo do Globo Gustavo Stephan, que é vizinho do pico, registrou as direitas intermináveis e açucaradas, com a melhor vista do Rio. Nessas ondas, o surfista até esquece da vergonhosa poluição que assola da Baía.

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Belo rescaldo de swell

25.4.08




O Rio recebeu uma especial ondulação de sudeste na quinta-feira, com direito a muita onda na Baía de Guanabara - e até a uma quase-tragédia com um catamarã. Nesta sexta, o excelente fotógrafo Fábio Minduim fez a ronda obrigatória e encontrou algumas pérolas. Liberou duas fotos para uma prévia no Surfe Deluxe: no alto, São Conrado; logo abaixo, Reserva. Preparem as shortboards para um belo fim de semana de surfe.

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Os órfãos de Snapper Rocks

24.4.08

O crowd não é perverso apenas no Havaí. Uma tradicional competição de longboard realizada desde 1984 na autraliana Snapper Rocks foi obrigada este ano a mudar de endereço, como noticiou o jornal aussie The Courier Mail (clique aqui para ler a matéria), por conta do violento localismo da molecada local.

O evento foi parar em Kingscliff, na Tweed Coast, depois de os organizadores do evento não conseguirem junto ao Conselho Distrital da Gold Coast uma permissão exclusiva para realizar o evento em Snapper Rocks. A negativa acaba sendo um prêmio aos mais agressivos do crowd, que ano passado transformaram os competidores de longboard em bóia.

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Duas baixas

22.4.08

Duas notas do portalzão Surfline:
- Damien Hobgood fraturou o ombro ao bater na bancada de Teahupoo durante os treinos para a próxima etapa do WCT. O acidente aconteceu num swell perfeito da semana passada. Damien, que defende o título no Taiti, está fora da prova.
- O surfista Travis Potter, uma das estrelas do celebrado Second Thoughts, contraiu malária cerebral enquanto viajava atrás de ondas por ilhas do sudoeste asiático. Ele gravava com outros seis loucos um novo filme de surfe extremo, chamado Isolated, em Papua Nova Guiné. Neste momento, está internado num hospital em Jakarta.

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Uma piscina de sonho no Japão

18.4.08

Finalmente um surfe de verdade numa piscina de onda. O paraíso, chamado Sea Gaia Ocean Dome, fica em Miyazaki, no Japão. A piscina não é nova, mas vale mostrar o vídeo. A dica é do amigo kitesurfista Paulino Ferrari, o Poli.

Inventário do surfista brasileiro

16.4.08

O Surfe Deluxe publica os melhores comentários dos jurados na eleição do surfista ideal (veja aqui os eleitos). Teve gente apostando na nova geração, gente bancando apenas um atleta e ainda gente que duvida de um surfista ideal mesmo se fosse possível reunir numa só figura as melhores qualidades de cada brasileiro. Abaixo, a opinião dos jurados:

O shaper Joca Secco, sobre os problemas do surfista brasileiro:
"Temos muitos talentos sem incentivo da mídia especializada nacional, que só sabe ver os defeitos e só fazem críticas não construtivas. Além disso, o mercado está formatado para somente valorizar o surfista de fora, já que as marcas são todas estrangeiras e não têm o menor interesse em valorizar a imagem do surfista brasileiro. Para terminar, os juízes brasileiros no tour também estão comprometidos com o sistema..."

Sérgio Lindenmann, organizador do WQS do Rio, sobre as perspectivas de um título do WCT
"Não acredito que o Brasil tenha um campeão mundial nos próximos dez anos. O investimento nas categorias de base é muito mal feito pelos dirigentes e patrocinadores. O SuperSurf é bem estruturado mas nivelado por baixo, já que os atletas do WCT não podem participar."

O big rider Rodrigo Resende, sobre o surfista brasileiro ideal
"Acho que é o Raoni. Só falta se concentrar um pouco, pois tem surfe para ser campeão mundial fácil."

Alceu Toledo Júnior, editor do site Waves, sobre o surfista brasileiro ideal
"Adriano Mineirinho tem chance de ser campeão do mundo em alguns anos, por que não? Afinal, o cara é campeão mundial sub-20 como o Andy Irons, que também levou alguns anos para deslanchar no WCT."

Rodrigo Schmidt, surfista e sócio de um escritório de design que trabalha para o Woohoo.
"Tivemos um surfista brasileiro ideal nos anos 80: Picuruta Salazar. Só que ele não teve apoio do mercado. Aliás, nem atualmente temos."

O surfista Marcelo Trekinho, sobre o surfista ideal:
"Não acho que há um brasileiro em 2008 com chances de ser campeão, apesar de achar que o Heitor Alves tem surfe para isso, assim como o Mineirinho, Raoni. Acho que falta apoio do mercado internacional. A imagem do surfista brasileiro não vende na Austrália e nos Estados Unidos como a imagem do Bruce Irons, por exemplo, vende no Brasil. Nós não somos ídolos lá fora como o Bruce é aqui no país. E olha que o havaiano não é campeão do mundo ou top 5. Para termos um campeão mundial do Brasil, o cara tem que ter a mãe ou o pai americano, correr os circuitos de base lá fora e se dar bem até virar profissional. Ter patrocinadores lá fora, ser anunciado lá fora. Isso facilitaria muito."

O jornalista Eduardo Chalita, sobre a nova geração e sobre o Mineirinho:
"No momento, não há nenhum brasileiro que chegue perto de ser um futuro candidato ao título mundial. Não tem ninguém no nível de um Jordy Smith ou Dane Reynolds, que reúna ao mesmo tempo talento e mentalidade de vitória. Não há, ainda, nenhum garoto perto do nível de um Ry Craig ou daquele moleque de Maui, o Clay Marzo, ou até mesmo dos mais novos, como John John Florence, Colohe Andino, Koa Smith e Julian Wilson. Os brasileiros mais próximos desses caras são o Ricardinho Santos (um Bruno Santos de 17 anos), o Wiggolly Dantas (que é mestre em competição, tipo Renan Rocha) e o Kiron Jabour (querido e campeão de várias divisões no Havaí e nos EUA). Só que o Kiron compete pelo Havaí. Se souberem auxiliar o Petersinho pode ser que ele chegue neste nível também. Esses garotos podem se transformar em surfistas de alto nível."

"Posso apostar que o Mineirinho vá velhorar e dê uma dura mais forte no circuito, mas parece que campeão ele não será. Posso queimar a minha língua, aliás até espero por isso, mas, por enquanto, essa análise é a mais próxima do provável."

Felipe Zobaran, ex-diretor da Fluir e atual diretor do Núcleo Masculino da Editora Abril
"Não, não há brasileiro que possa almejar o título mundial. Teremos que esperar outra geração. Mais: mesmo selecionando o melhor de cada brasileiro, juntando tudo num cara hipotético, não daria para derrotar Fanning, Slater, Parkinson, Burrow e Andy Irons."

Maxime Perelmuter, surfista e empresário, sobre as dificuldades do WCT
"Não consegui pensar em alguém para votar em ondas pesadas porque acho que isso não é só `go for it'. É chegar em Tavarua ou em Haleiwa e dar na orelha. E não me lembro de um brasileiro fazendo isso, não no nível exigido pelo WCT. Todos vimos o esforço que o Mick Fanning, que é brilhante, teve que fazer para ser campeão mundial. É difícil para caramba!"

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O Brasil nos Hot 100 da Surfer

Surfe Deluxe volta das férias divulgando a lista "Surfer Hot 100 Best Young Surfers on the Planet". No enorme bolo de fenômenos do futuro, há apenas três brasileiros. Em quarto lugar, está Adriano Mineirinho, atrás apenas do sul-africano Jordy Smith, do australiano Julian Wilson e do francês Jeremy Flores. Em trigésimo-terceiro, aparece Wiggolly Dantas e, logo em seguida, o brasileiro que compete pelo Havaí Kiron Jabour. Na lista do surfe feminino e da grommet publicada pela Surfer, o Brasil passa em branco.

O texto publicado sobre Mineirinho (13/02/87) oscila entre o elogio pelo histórico de títulos e a crítica às performances em ondas mais pesadas, sobretudo as do Havaí. A Surfer lembra que, obrigado a decidir a vaga no Havaí, Adriano acabou permanecendo apenas pela "bolha de reclassificação do WQS". Mas, lembra a revista, 2008 pode ser a redenção do brasileiro, com uma nova estratégia de competição, um treinador contratado e dedicação de um tempo considerável de treino a ondas como Teahupoo e Pipeline.

Sobre Wiggolly Dantas (16/12/89) - para a Surfer, Wiggolly Dantes - a revista sai pelo caminho inverso. Diz que ele quebra o estereótipo dos surfistas brasileiros de "guerreiros de ondas pequenas" pela sua predileção por ondas como Pipeline e Teahupoo. Declarou Wiggolly: "Eu amo Pipeline por ser uma bela esquerda. De Teahupoo, gosto por ser uma onda perigosa." Faz sentido.

No parágrafo dedicado a Kiron (10/01/91), a Surfer diz que parece ter feito um "smart move" ao se mudar cedo para o Havaí. Lembra da vitória do garoto no Pro-Junior nas ondas de 8 a 10 pés de Sunset, passando por cima de outros Hot 100 mais bem posicionados, como John John Florence (n. 14) e Mason Ho (n. 18). A vitória, para a revista, mostra que Kiron é mais que um garoto apenas capaz de voar sobre o lip e soltar a rabeta.

Clique aqui para visitar o site da Surfer Hot 100.

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Surfe Deluxe
Blog de notícias sobre as ondas e seus personagens, escrito com palavras salgadas pelo jornalista Tulio Brandão.
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